5 de janeiro de 2010





O coração merece um brinde


     Foi Jack Kerouac (1922-1969), o autor de On the road - Pé na estrada, quem escreveu este conselho de absoluta sobriedade: "Não beba para se embebedar. Beba para aproveitar a vida". Como Kerouac sabia por experiência própria, beber de forma irresponsável é um perigo. Pesquisas médicas relacionam 36 causas de morte ao consumo de álcool, de doenças hepáticas a desordens mentais. Mas isso só se aplica a quem exagera. A moderação, dizem os estudos, faz muito bem.
     No final dos anos 70, a revista médica Lancet, da Inglaterra, comparou as estatísticas de mortes por doença coronariana em 18 países desenvolvidos e procurou suas correlações com a dieta e o consumo de álcool. França, Itália, Suíça e Áustria, com o mais elevado consumo de vinho, apresentaram a menor taxa de mortalidade por doença cardíaca. Em 1991, Walter Willett, que então presidia o departamento de nutrição da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, publicou um artigo no New England Journal of Medicine em que consolidava os principais estudos sobre a relação entre dieta e doenças coronárias. Ele concluiu que o álcool exibe um “poderoso efeito protetor” do coração.
     Outros estudos consolidaram o que ficaria conhecido como curva em U (como a do quadro abaixo). Ela mostra que o risco de sofrer um ataque do coração é alto em abstêmios, maior até que nos praticantes do chamado consumo pesado (três ou mais dinques por dia), na ponta oposta do U. A barriga do U é que indica a relação de consumo ideal com saúde coronária, estando relacionada à moderação no beber. Embora a curva volte a ascender com o consumo pesado, o risco de ataque cardíaco permanece menor que na abstemia. A razão para isso é que o álcool limpa as artérias, retirando as placas de gordura que podem causar ataques cardíacos. Em excesso, porém, esse benefício se perde. Trata-se de um consolo para quem evita a bebida por temer seus efeitos sobre a saúde.
     No Brasil, o hábito de beber vinho às refeições, que até há pouco tempo se limitava aos descendentes de europeus, já se disseminou por todo o país. Em 2009, Fortaleza sediou seu primeiro festival do vinho, prova de que a bebida se adapta até ao calor torrencial do Ceará. Para quem nunca bebeu, os prazeres de boas garrafas de vinho ou mesmo de um chope com os amigos podem tornar a vida mais alegre e divertida. Desde que o passo seguinte não seja dirigir.







EPOCA, 4 de janeiro de 2010



Leia também:







Nenhum comentário: